“Auto-Retrato”
Carvão
20x28
cm
460,00
€
ANTÓNIO
CRUZ
António
Amadeu Conceição Cruz nasceu em 9 de Março de 1907, na Rua Nossa Senhora de
Fátima, na freguesia portuense de Cedofeita. Era filho de Avelino da Conceição
Cruz e de Luísa da Silva.
Desde
cedo manifestou vocação para o desenho. Este artista, na idade adulta, viria a
ser considerado o renovador da aguarela portuguesa. As suas paisagens marcantes
são dominadas por uma luz que tanto oculta como revela as formas e grande parte
delas imortaliza a cidade que o viu nascer, viver e morrer.
Depois
da primária concluída, Cruz enveredou pelos estudos industriais frequentando o
curso de Condutor de Máquinas (1920), na Escola Infante D. Henrique, Porto,
para satisfazer a família.
Mas
a arte já o seduzia. Muito mais do que as Noções de Mecânica Geral ou o Desenho
de Máquinas. E modelo também já o tinha: o Porto e os seus recantos. Que se
nota desde logo nas primeiras obras que produziu, nas quais capta pormenores da
paisagem do burgo e seus arrabaldes, de lugares como Ramalde, o Campo Alegre ou
Leça do Balio.
No
final dos anos vinte (1928) cumpriu o serviço militar na Companhia de Torpedos
em Paço de Arcos.
Logo
em seguida começou a realizar alguns trabalhos publicitários, ilustrou livros
escolares e expôs nas Termas de Vizela e no Casino da Póvoa. Se a primeira
destas exposições não obteve sucesso, a segunda teve um resultado
surpreendente: impressionado pelo que tinha visto, um turista alemão comprou
todas as obras nela expostas.
Em
1930 percebeu que a Arte era, em definitivo, o seu mundo. E que a devia educar.
Casario
da Sé do Porto (1945)Para tal matriculou-se na Escola de Belas-Artes do Porto,
sem o conhecimento dos pais. Na ESBAP, foi aluno de Acácio Lino (1878-1956), de
Joaquim Lopes (1886-1956) e de Dordio Gomes (1890-1976) em Pintura, e de Pinto
do Couto (1888-1945) e Barata Feyo (1898-1990), em Escultura. Da vida académica
fica ainda a participação num grupo de jovens artistas, o "+ Além",
com o qual virá a expor.
Nos
dois anos seguintes, porque lhe faltavam condições e os pais continuavam sem
saber o que o filho fazia, concorre a pensionista do Legado Ventura Terra, para
prosseguir os seus estudos. Para isso era necessário um atestado de pobreza,
que consegue obter da Junta de Freguesia de Ramalde.
Em
1932, o então estudante da Escola de Belas-Artes recebe o prémio de desenho
"José Rodrigues Júnior". A notícia foi publicitada nos jornais e o
seu segredo posto a descoberto. No entanto, se o futuro aguarelista temia o
desagrado dos pais, isso não aconteceu: é que a distinção era muito honrosa,
amenizando a tensão familiar.
No
ano de 1933 dedicou-se intensamente ao desenho. Fazia-o nos lugares mais
animados da cidade: nos cafés, que naqueles tempos eram apetecidos locais de
convívio. No café Vitória, aos Aliados, entretanto desaparecido, retratou
fortuitamente um habitué que era um cliente especial. Este, em troca do
retrato, deu-lhe 50 escudos e um cartão de recomendação para o Dr. Alfredo
Magalhães, seu futuro mecenas, que lhe viria a conseguir um atelier num lugar
especial: na Maternidade de Júlio Dinis.
Abalado
pela morte do pai, em 1934, e lutando com a falta de dinheiro, viu-se obrigado
a interromper os estudos, fixando-se temporariamente na Ponte da Barca, onde
passou todo o tempo a pintar. E um invulgar gesto de solidariedade ocorreu:
setenta e dois alunos da Escola de Belas-Artes do Porto, entre os quais se
destacam Dominguez Alvarez, Guilherme Camarinha, Augusto Gomes, Laura Costa,
Ventura Porfírio e Agostinho Ricca, solicitou ajuda, num abaixo-assinado
dirigido à Direcção da Escola, para que António Cruz continuasse os estudos.
Esse mesmo grupo de alunos, em 1935, endereçou o mesmo pedido à Câmara
Municipal do Porto, que lhe concedeu uma bolsa mensal, de "trezentos
escudos", depois suportada com o apoio da Junta de Freguesia do Bonfim.
Em
1937, à boleia num cargueiro, partiu para a Grã-Bretanha, onde visitou museus e
pintou. De regresso ao Porto, terminou o Curso de Pintura da Escola de
Belas-Artes, ainda com bolsa de estudo da Câmara Municipal do Porto.
Amigos
e admiradores, como o Dr. Alfredo Magalhães, Joaquim Lopes, Aarão de Lacerda, o
Dr. Melo Alvim, o Engº Brito e Cunha e D. Isabel Guerra Junqueiro, organizaram,
em 1939, a sua primeira exposição individual, no Salão Silva Porto. Em Dezembro
desse ano, a exposição foi levada para a Sociedade Nacional de Belas-Artes, em
Lisboa, sendo inaugurada pelo Chefe de Estado e pelo Ministro da Educação
Nacional. Enquanto ela decorreu, o artista foi alvo de várias homenagens.
Além
do Curso de Pintura, António Cruz frequentou o de Escultura da ESBAP, em 1942,
alcançando a 1ª medalha no curso com a tese "Uma estátua equestre a D.
Afonso Henriques". Em 1945, apresentou a prova de final de curso com a
obra "Adoração dos Pastores", obtendo a classificação de 18 valores.
Em
1944 foi-lhe concedida uma bolsa do Instituto de Alta Cultura, para
aperfeiçoamento dos estudos de aguarela, ameaçada por rumores que o davam como
comunista, mas salva pela pronta intervenção de altas figuras, como o Prof.
Reynaldo dos Santos.
Igreja
de Santo Ildefonso, PortoEm 1954 casou com Ofélia Marques da Cunha na Igreja de
Santo Ildefonso, no Porto. Quatro anos depois começou a leccionar na escola de
Artes Decorativas de Soares dos Reis, na mesma cidade. Em 1962, concorreu para
provimento de um lugar de professor na Escola de Belas-Artes do Porto e, no ano
seguinte, é nomeado professor agregado de Desenho, depois de aprovado em mérito
absoluto no concurso público. E em 1964 insiste em concluir os estudos de
Escultura na mesma Escola de Belas-Artes; contudo, não chega a apresentar a
obra de tese nesta área.
Aguarela
de António CruzEm 1982, os artistas Armando Alves e José Rodrigues e o editor
José da Cruz Santos organizam, na Casa do Infante, uma segunda exposição
individual de obras de António Cruz e um serão de homenagem ao artista (25 de
Novembro a 12 de Dezembro). Nessa ocasião foi lançado o álbum O Pintor e a
Cidade, com a reprodução de aguarelas do artista, acompanhadas de um texto da
autoria de Agustina Bessa-Luís, e o jornal "O Comércio do Porto"
lança um concurso subordinado ao tema "O Pintor e a Cidade".
Esta
popular exposição gerou, como nunca até então, um grande assédio por parte dos
jornalistas para que o artista concedesse entrevistas, prática a que era
avesso. Logo em seguida participa na exposição "Os Anos 40 na Arte
Portuguesa", em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian.
Em
1983, realiza a última mostra da sua arte. Uma exposição individual na Galeria
Diagonal, em Cascais, entre 15 de Abril e 5 de Maio. Morreu no Porto, em 29 de
Agosto desse ano.
Durante toda a sua carreira
participou num grande número de exposições colectivas, em diversas galerias e
instituições, nos mais variados pontos do país, e recebeu inúmeras distinções
pelas suas pinturas e esculturas. Em 1956 fora figura principal no filme O
Pintor e a Cidade, de ManoeL de Oliveira.